data-filename="retriever" style="width: 100%;">Ao longo do século 20, mesmo alternando governos diferentes ou períodos autoritários e democráticos, o Brasil foi consolidando posição internacional não intervencionista e de busca da resolução pacífica de conflitos. É verdade que participamos ao lado dos "aliados" na Primeira e na Segunda Grande Guerra, em ambos os casos após ataques a navios mercantes brasileiros (atribuídos aos alemães, mas há quem desconfie de "fogo amigo") e, no caso do embate na década de 1940, também tendo conseguido benefícios das potências às quais se aliaria. Essa participação limitada nos conflitos mundiais e o alinhamento durante a Guerra Fria aos interesses do Ocidente não impediram a construção de uma sólida presença internacional, desde a criação da ONU, nas forças de paz e na diplomacia de mediação e negociação para resolver guerras regionais ou ameaças destas.
Por isto a posição precoce, apressada e desajeitada do Brasil, pelo chefe de Estado e nota do Itamarati, no atual conflito entre Estados Unidos e Irã, causou tanta estranheza interna e externa. A incondicionalidade das atuais autoridades brasileiras aos interesses, políticas e governantes norte-americanos não encontra parâmetro similar sequer nos governos militares pós-64 e tem representado muito mais perdas e danos do que algum concreto bônus para o país. Perdemos a personalidade que tínhamos no plano internacional sem sequer conquistar retribuição ou respeito da grande potência estadunidense que sabe ser concorrente voraz no comércio internacional.
O Brasil deveria ser comedido nas declarações de simpatia, preservar a soberania e seus interesses objetivos, dispor-se a esforços mediadores e de paz. Fez tudo ao contrário. Colocou em risco interesses diplomáticos e comerciais. Chamou para si a ira de nações, organizações religiosas e políticas relevantes no mundo atual. Virou até alvo de grupelhos violentos combatendo em suposto nome da fé ou da etnia.
E o que nos sobrará de parte de quem foi apoiado com tanta sofreguidão ansiosa? Talvez algum elogio demagógico e o aperto de sempre nas relações comerciais e diplomáticas. Tem sido assim com tarifas sobre importações de aço e alumínio brasileiros, a concorrência nos mercados do agronegócio, os cantos de sereia sobre vagas em clubes internacionais (a suposta vaga na OCDE é exemplo, prometida ao Brasil, dada à Argentina...).
Ah! Se as autoridades lessem e respeitassem nosso "livrinho" fundamental, a Constituição. O seu quarto artigo diz como o Brasil deve se reger nas relações internacionais e entre vários princípios citados, estão: não intervenção, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos.
Precisamos retomar personalidade própria no cenário internacional e proteger os interesses do povo brasileiro. Bem antes de qualquer bravata ideológica à direita ou à esquerda ou de orientar a política externa pelo fascínio de alguém por um mandatário estrangeiro. Somos uma nação soberana.